Crítica: “Pantera Negra”

Nos quadrinhos, sua criação (fruto da imaginação de Stan Lee, que ganhou forma através das ilustrações de Jack Kirby) já tem mais de 50 anos. No cinema, uma rápida aparição em “Vingadores: Guerra Civil” serviu como grande promessa futura. Agora, chegou a hora de “Pantera Negra” (Black Panther) estender seu reinado para as telonas em um título próprio.

O longa começa com a ascensão de T’Challa (Chadwick Boseman, perfeito no papel) ao trono de Wakanda – nação fictícia localizada na África -, logo após o assassinato do soberano anterior, seu pai T’Chaka (John Kani). O antigo ritual praticado pelas tribos do local, que visa à concordância entre todos em relação ao novo rei, é um bem-vindo contraste à alta tecnologia que permeia a rotina de parte de sua população.

Aliás, contraste parece ser uma das palavras-chave do filme dirigido por Ryan Coogler, já que é possível enxergar Wakanda de duas maneiras: a moderna, onde o uso do Vibranium, um dos metais mais raros do Universo, possibilita inúmeras criações – de armas a equipamentos que restabelecem a saúde de guerreiros feridos; e a nação conhecida pelo resto do mundo, cuja economia baseada em atividades de fazenda, inspira simplicidade.

Se por um lado temos a chegada de um novo herói ao panteão da Marvel, por outro temos a participação de vilões cujos nomes também conseguem entrar para a galeria dos grandes: reprisando o papel interpretado em “Vingadores: A Era de Ultron”, Andy Serkis surge como Ulysses Klaw (ou como é conhecido nas HQ’s, ‘Garra Sônica’), responsável pelo desvio de uma parte do Vibranium para fora dos limites de Wakanda e que não se furta em tentar matar quem se colocar à frente de suas ações criminosas.

E tencionando lutar pelo poder, para colocar em prática o desejo de ceder de maneira indiscriminada, armas feitas do poderoso metal a nações negras ao redor do mundo – ainda que isso possa gerar uma guerra sem proporções -, está Erick Killmonger (vivido por um inspirado Michael B. Jordan). A real motivação do vilão – que pode parecer simples para alguns – carrega consigo grande profundidade.

Dando sustentação à trama, há personagens femininas com qualidades tão distintas quanto importantes: Okoye (Danai Gurira), a líder do exército conhecido como “Dora Milaje”, com sua destreza física equiparada somente à lealdade para com o trono de Wakanda; a genial irmã mais nova de T’Challa, Shuri (Letitia Wright), responsável pela invenção dos mais diversos aparatos tecnológicos, incluindo o traje especial do herói; a espiã e interesse amoroso do protagonista, Nakia (Lupita Nyong’o), que consegue enxergar possibilidades nas situações menos favoráveis e que sonha com uma vida mais justa para todos; e a Rainha-Mãe Ramonda (Angela Bassett), cuja postura firme compactua com sua posição de soberana.

Com um elenco de excelência, ainda há espaço para a volta do agente da CIA, Everett Ross (Martin Freeman), e as participações do sempre competente Forest Whitaker, no papel de Zuri – uma espécie de guia espiritual, com ligação direta ao Rei T’Chaka – e de Daniel Kaluuya como W’Kabi, o chefe de segurança da Tribo da Fronteira.

É louvável quando uma produção faz todos seus elementos – separados ou unidos – funcionarem com precisão e é exatamente o que a nova aposta da Casa das Ideias consegue em tela: o êxito em construir uma história que prenda a atenção por seu teor, personagens e cenários. Destaque para a belíssima sequência de abertura, em forma de animação, e para a ótima trilha sonora, que consegue unir a tradição ao contemporâneo.

Em tempos atuais, o herói de “Pantera Negra” é mais do que apenas uma nova peça inserida no cada vez maior quebra-cabeça do Universo Marvel. É um herói necessário.

Ah, vale lembrar que há duas cenas pós-créditos.

por Angela Debellis

*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.

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