“A Vida em Si” (Life Itself) é o segundo filme roteirizado e dirigido por Dan Fogelman, cujo trabalho mais recente é como roteirista e produtor da série “This Is Us”.
O filme segue as histórias de Will e Abby Dempsey (Oscar Isaac e Olivia Wilde), um casal americano que se desfez há seis meses, fato que levou ao colapso mental do marido; e Rodrigo e Isabel González (Alex Monner e Laia Costa), um casal espanhol que está no começo de sua vida conjugal. A partir disto conheceremos suas conexões.
O roteiro se baseia no conceito do narrador parcial, aquele cuja narração pode eventualmente vir a discorrer a história de forma favorável sob seu ponto de vista. Ainda à luz deste conceito, o filme aborda a questão da memória e sua plasticidade, e como os traumas manipulam nossa percepção de mundo.
Das grandes estrelas a que mais se destaca é Antonio Banderas, cujo papel do canalha e galanteador Sr. Saccione, desempenha com eficiência. Oscar Isaac, ainda que não seja seu melhor trabalho, transmite a sensação do colapso mental em suas expressões. E Laia Costa rouba a cena nas cenas em que participa.
Olhando para os aspectos técnicos, a fotografia é muito bem preparada, particularmente a condução dramática da câmera e a escolha das cores. As faixas presentes em sua trilha sonora ajudam no tom dramático, ainda que não valham a audição externa.
Se há uma expressão que pode descrever “A Vida em Si” é “oportunidades perdidas”. Existem elementos muito interessantes na trama, porém o roteiro não faz o devido jus. Ao tentar entrelaçar uma comédia romântica em meio às tragédias vividas pelos personagens, gera uma distonia entre o humor e o trágico, criando uma estranha tragicomédia romântica, que não funciona tão bem. Se o foco fosse maior nos dramas, funcionaria muito melhor.
A questão do narrador tendencioso, parcial ou não confiável, também não é bem utilizada. Ao invés de criar algo atrativo, o longa parece subestimar o poder de assimilação do espectador. Ainda que o uso para criar ambiguidades ou uma narrativa mais complexa possa ser algo comum a esse tipo de narração, a produção envereda pelo caminho mais simples, e somente ao começo vemos uma narrativa que usa este tipo de elemento em seu potencial maior.
Há de se destacar que “A Vida em Si” tem seus méritos e momentos de brilho. Mas, por outro lado, quando sobem os créditos finais, é provável que parte da plateia fique com a incômoda sensação de que houve um grande desperdício de potencial da película.
por Ícaro Marques
*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.
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