Sem dúvidas, assistir a um filme que tenha um roteiro repleto de nuances, realizado com a nítida intenção de ser lembrado durante a temporada de premiações, é muito bom.
Mas, para mim, nada se compara à sensação de acompanhar uma narrativa que pode soar (e realmente é) mais simples, e, ainda assim, faz com que sintamos uma espécie de imediata satisfação pessoal – através das ações de outra pessoa. É o que acontece com “Beekeeper – Rede de Vingança” (The Beekeeper).
A partir da máxima que afirma que “não se deve mexer com quem está quieto”, conhecemos Adam Clay (Jason Statham), apicultor que leva uma vida pacata em uma área rural de Massachusetts, aonde aluga o galpão de sua vizinha, Eloise Parker (Phylicia Rashad) – com quem desenvolve uma sincera amizade – para produzir e armazenar mel.
Se as primeiras cenas do longa escrito por Kurt Wimmer e dirigido por David Ayer podem dar a ilusão de tratar-se de apenas uma história comum, tal sentimento é deixado de lado, quando algo inesperado e terrível acontece, trazendo à tona o real significado de “Apicultor” (Beekeeper, na versão original) – codinome para integrantes de uma divisão secreta / clandestina do governo, cujas habilidades de luta são altamente letais.
O fato em questão é o suicídio de Eloise, que, após sofrer um golpe cibernético e ver as economias de uma vida (além dos valores a serem usados em um projeto de caridade liderado por ela) serem subtraídos, e sem saber o que fazer para reverte o quadro, acaba tirando a própria vida.
Acusado injustamente pelo crime por Verona (Emmy Raver-Lampman) – agente do FBI e filha da vítima – Adam Clay não medirá esforços para encontrar os verdadeiros culpados. E o que parece um delito isolado, terá desdobramentos que mostram que este, como diz um personagem em dado momento, é apenas a ponta de um, entre vários icebergs.
Em uma escala crescente de importância e violência (o que significa muitos feridos e mortos pelo caminho), o protagonista terá a missão de enfrentar, cara a cara, o jovem milionário Derek Danfort (Josh Hutcherson), responsável por um “negócio de mineração de dados e atendimento ao consumidor”, que pode ser resumido em uma palavra bem menos pomposa: estelionato.
Seguir “O Apicultor” em sua jornada de (justificada) vingança é tão intenso, quanto engrandecedor. Vivemos em uma sociedade infectada pelos crimes cibernéticos e, conhecer alguém que já foi prejudicado por alguém através da Internet não é tão improvável.
O que significa que, se por um lado sentimo-nos enojados com as cenas passadas nos escritórios nos quais dezenas de jovens comemoram, ao aplicar golpes (via telefone) em idosos com pouca familiaridade com a informática em geral, por outro, é um deleite ver cada infrator cair como vespas que atacam colmeias. E sim, há várias boas metáforas envolvendo os insetos durante a história.
Além de Derek, Adam Clayton descobrirá que há mais figuras poderosas nesse vespeiro, incluindo o chefe de segurança, Wallace Westwyld (Jeremy Irons), e a mãe do delinquente, Jessica Danforth (Jemma Redgrave). Acredite: as revelações que vão aparecendo são surpreendentes (o que não acontece em boa parte das obras do gênero ação).
Embora tenha uma narrativa fechada, “Beekeeper – Rede de Vingança” pode, muito bem, assumir o papel de capítulo inicial de uma nova franquia, já que há potencial para isso. E se manter nosso réu primário intacto é óbvia e moralmente exigido na vida real (mesmo diante da ilegalidade, desrespeito e falta de caráter dos malfeitores), que pelo menos possamos ver – mais vezes – a justiça sendo feita, a contento, em tela.
por Angela Debellis
*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.
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