Sentir carinho por um personagem fictício já bastaria como justificativa para ficar feliz com seu retorno, após oito anos do suposto fim de seu arco de histórias. Alie a isso, a ideia de que também existe a possibilidade dessa volta seguir gerando frutos (ainda que de maneira diferente do que gostaríamos, a princípio). Essa é a receita para trazer “Kung Fu Panda 4” (Kung Fu Panda 4” à luz das telas de cinema.
No novo capítulo da saga de Po (voz de Jack Black na versão original americana e Lúcio Mauro Filho na versão brasileira), de acordo com a orientação de Mestre Shifu (Dustin Hoffman / Leonardo Camillo), o Grande Dragão Guerreiro está à frente daquela que pode ser sua missão mais complicada: encontrar um sucessor para seu posto no Palácio de Jade.
Após ter enfrentado (e derrotado) grandes vilões e tornar-se o portador do Cajado da Sabedoria (ofertado a ele pelo saudoso Mestre Oogway), o protagonista deverá assumir o papel de Líder Espiritual do Vale da Paz, a fim de transmitir paz e inspirar sabedoria (o que não parece um plano muito adequado ao carismático – e levemente desajeitado – Po).
Mas, qualquer dúvida é deixada de lado com o surgimento de uma ameaça inédita. A vilã da vez atende pelo nome de Camaleoa (Viola Davis / Taís Araújo) e, mais do que camuflar-se nos ambientes, a feiticeira transmorfa que habita a Torre Maligna da Cida do Zimbro consegue assumir as formas de qualquer criatura – incluindo as desavenças anteriores de Po.
Se isso não parece o bastante, a antagonista também deseja conquistar as habilidades de Kung Fu de todos os grandes mestres que já partiram para o Reino dos Espíritos – incluindo o melhor vilão da franquia, Tai-Lung (Ian McShane / Sérgio Fortuna).
Com a (sentida) ausência dos Cinco Furiosos – que estão em missões variadas pelo mundo – Po se verá à mercê das ambições da Camaleoa que almeja conquistar todo o território ao redor do Vale do Paz. Porém, ele não está sozinho: para enfrentá-la, contará com a inesperada ajuda de Zhen (Awkwafina / Danni Suzuki), uma jovem raposa-das-estepes, cuja história prévia torna-se um dos melhores pontos do roteiro de Jonathan Aibel, Gleen Berger e Darren Lemke.
Dirigido por Mike Mitchell e Stephanie Stine, o longa da Universal Pictures em parceria com a DreamWorks Animation não só mantém, como aprimora o padrão de qualidade visual, entregando um resultado belíssimo composto pelas mais diversas texturas – sejam de personagens ou cenários. E a história, se não é a mais brilhante da franquia, também não deixa a desejar no quesito colocar um sorriso no rosto dos espectadores (sejam os fãs de longa data ou os recém-chegados – estes, claramente, sendo o público –alvo da obra).
Quanto aos coadjuvantes, duas figuras estão entre as melhores da animação: Li Shan (Bryan Cranston / Anderson Coutinho) e Sr. Ping (James Hong / Alexandre Maguolo). Os pais (biológico e adotivo) de Po vão em busca do filho que julgam – sabiamente – estar em perigo, e protagonizam excelentes sequências envolvendo a necessidade de ter coragem (quando não tê-la não é uma alternativa). E, é claro, os coelhinhos (não tão fofinhos) vistos no trailer oficial.
Por falar em momentos que merecem destaque, há dois em especial: o que envolve a meditação de Po sob a Cerejeira (que me fez entender o porquê de minhas tentativas de meditar serem em vão) e as imagens exibidas durante os créditos finais, sob a maravilhosa versão de Tenacious D para o maior sucesso de Britney Spears, “Baby, One More Time”.
Além da sempre válida proposta de diversão, “Kung Fu Panda 4”, assim como seus antecessores, consegue – através de detalhes em seu texto – passar lições sobre a importância de acreditar em sua capacidade, mesmo quando mais ninguém parece fazê-lo. Como diria o sábio Po: “Quando a vida te der limões, faça um suco de pera e surpreenda toda a galera”.
por Angela Debellis
*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.
Comments are closed.