Crítica: “O Dublê”

Por mais que seja uma profissão fundamental para a indústria do entretenimento em geral, a verdade é que, quando assistimos a alguma produção, dificilmente nos lembramos, de imediato,  da importância dos dublês (o que não deixa de ser bastante injusto).

Mas, esses profissionais ganham o merecido destaque em “O Dublê” (The Fall Guy), novo trabalho do diretor David Leitch, baseado na série homônima dos anos de 1980, estrelada por Lee Majors e que no Brasil teve o título traduzido para “Duro na Queda”.

A trama nos apresenta Colt Seavers (Ryan Gosling), dublê oficial do astro de ação Tom Ryder (Aaron Taylor-Jonhson), que tem sua carreira interrompida após um grave acidente sofrido em um set de filmagem. Tal acontecimento leva o protagonista a afastar-se, não só do ofício, mas também de sua parceira / operadora de câmera / aspirante a diretora, Jody Moreno (Emily Blunt).

Passado esse tempo de reclusão, Colt decide atender o pedido de Gail Meyer (Hannah Waddingham) – produtora responsável pelo gerenciamento de carreira de Tom Ryder – quando descobre que o astro desapareceu misteriosamente, abandonando as gravações do primeiro longa dirigido por Jody.

Retomar sua bem-sucedida carreira, reconquistar a mulher amada e encontrar o ator a quem substitui em cenas perigosas, há seis anos. A missão de Colt não é das mais fáceis, mas, é uma das melhores coisas vistas em tela nos últimos tempos.

Não chega a ser surpresa a história ter como base a ação pura e absoluta – o que faz muito sentido, em se tratando de exaltar a função de quem garante que sequências memoráveis sejam realizadas com precisão e qualidade. Mas, também há um surpreendente espaço para o romance e até mesmo uma reflexão sobre nos tornarmos coadjuvantes da vida dos outros, e esquecermos de ser protagonistas das nossas.

Há tanto a se destacar em “O Dublê”. O elenco afinadíssimo (incluindo o fofíssimo cachorro Jean Claude, interpretado por Fluffy) não só entrega boas atuações, como parece estar, genuinamente, divertindo-se em cena. O que resulta em momentos incríveis como todas as interações dos personagens com o coordenador de dublês Dan Tucker (Winston Waddington) – uma verdadeira enciclopédia ambulante de citações icônicas do cinema – e o diálogo travado entre Colt e Jody, que tem os mais improváveis espectadores como testemunhas (e um megafone como acessório obrigatório).

Outra maravilha é a trilha sonora eclética o bastante para ter o clássico do Kiss, “I was made for loving you” (em versão gravada pelo cantor Yungblud) como tema central, e ainda contar com faixas como “I believe in a thing called Love” da banda The Darkness, “Against all odds” de Phil Collins e “All too well”, de Taylor Swift.

Também é preciso enaltecer a qualidade do roteiro de Drew Pearce, repleto de referências (na forma de objetos, ações ou textuais) que melhoram ainda mais a experiência do espectador que conseguir notá-las. E essa é uma ótima razão para ver o filme mais de uma vez. Ah! E tem uma (bem-vinda) cena adicional durante os créditos.

Imperdível.

por Angela Debellis

*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.

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