Crítica: “Imaculada”

A história dos bastidores de “Imaculada” (Immaculate) é tão interessante quanto a do próprio filme. Um projeto para o qual Sydney Sweeney havia feito teste anos atrás, mas que cancelado antes de ser filmado.  Agora, já com dinheiro e fama, a atriz retoma o material como produtora e protagonista, e uma obra que poderia ter sido descartada, retoma como um longa caprichado.

Em “Imaculada”, Sydney Seewney interpreta Irmã Cecília, uma freira que acabou de entrar em um convento, conhecendo o dia a dia do seu novo mundo . Porém, engravida de forma misteriosa e virginal, virando prisioneira de uma sociedade secreta que deseja controlar a vinda de um novo Salvador.

A primeira coisa que salta aos olhos é a ambientação. A escolha dos cenários e figurinos é refinada pela fotografia e paleta de cores, gerando um mergulho total em um convento antigo, complexo e belo. Se a história fosse só um drama de uma freira em processo de adaptação, já estaria perfeito, inclusive esse é o primeiro ato do filme.

Falando em atos, é divertido como a direção de Michael Mohan brinca com o conceito, ao colocar placas anunciando o segundo e terceiro trimestre de gestação, respectivamente, no início do segundo e terceiro ato da obra.

Fica bem claro como a proposta é materializar uma ideia simples com o máximo de cuidado nos detalhes. Elementos mostrados do início, mesmo os menores, são revisitados e ampliados de forma contínua.  Não há detalhes jogados.

Isso inclui os itens religiosos escolhidos que dialogam diretamente com a trama quando você pesquisa por eles. Por exemplo, o convento é dedicado à Nossa Senhora da Dores, uma linha real de culto à mãe de Cristo que enfatiza o sofrimento que ela passou como mãe do Salvador.

Quando temos o diagnóstico da gestação,  pouco vemos coisas estranhas acontecendo, não sabendo até que ponto há algum componente sobrenatural no lugar e até  onde é pura loucura dos membros da congregação que desejam se elevar no poder clerical, tendo uma santa e um Messias próprios.

A confusão da protagonista tem várias camadas que constroem o terror da obra. A gravidez indesejada, longe da família, em um local em que mal conhece a língua e não sabe em quem pode confiar, um ambiente cheio de pequenos segredos que vão caminhando para algo maior.

No geral, o roteiro de Andrew Lobel é amarrado por uma atuação que mostra bem a progressão paulatina de Irmã Cecília, de uma jovem gentil e curiosa, para uma mulher cheia de raiva e pavor.

Sem falar spoilers, o final tem uma adrenalina que sentia falta nesse tipo de produção, pois uma tendência é colocar a protagonista sendo arremessada pelas situações, sem qualquer poder de ação, enquanto aqui vemos um terceiro ato que surpreende pelo gore e evolução nítida de todos os personagens.

Para quem aprecia títulos de seitas e cultos, “Imaculada” está na medida certa, algo que estava realmente faltando nos últimos anos para os amantes do terror.

por Luiz Cecanecchia

*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.

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