Sejam filmes, livros, séries ou espetáculos teatrais, de tempos em tempos surgem obras que se tornam atemporais e são levadas ao patamar de clássicos instantâneos. São títulos que conseguem aclamação em seu lançamento e seguem conquistando fãs, mesmo com o passar dos anos e a chegada de novas gerações.
É o caso de “Os Fantasmas se Divertem”, longa de 1988, que marcou seu nome entre os grandes, ao apresentar em tela uma das figuras mais carismáticas do cinema: o demoníaco / Beetlejuice (interpretado por Michael Keaton), como protagonista de uma trama que funciona perfeitamente de maneira isolada. Talvez nessa época fosse mais fácil aceitar a existência de histórias únicas.
Mas, surpreendendo aqueles que sabem que seu nome não deve ser dito três vezes seguidas, o personagem – que no Brasil teve seu nome traduzido para “Besouro Suco” – está de volta, quase quatro décadas depois, em uma improvável continuação, cujo maior acerto é saber manter a essência de seu antecessor – ainda que com pinceladas atuais.
Em “Os Fantasmas Ainda se Divertem: Beetlejuice Beetlejuice” (Beetlejuice Beetlejuice), Lydia Deetz (Winona Ryder) fez de sua capacidade de enxergar fantasmas algo rentável e assumiu o papel de apresentadora do “Casa Assombrada”, um bem sucedido programa de televisão que tem essa temática como assunto principal.
Mas, se ela aprendeu a lidar com os desencarnados, o mesmo não pode ser dito em relação à sua filha única, Astrid (Jenna Ortega), com quem mantém um relacionamento marcado pelo distanciamento por parte da garota – fato agravado pela morte precoce de seu ex-marido Richard (Santiago Cabrera).
A trama se desenvolve a partir de uma tragédia familiar (que ganha ares cômicos ao ser, sabiamente, retratada através da técnica de stop-motion) que faz com que Lydia, sua madrasta Delia (Catherine O’Hara) e Astrid retornem à casa da colina vista no longa oitentista, em Winter River, na qual ainda existe a maquete que serviu de passagem para Beetlejuice chegar ao mundo dos vivos, há 36 anos.
Passados às vésperas do Halloween, os acontecimentos vão girar em torno da necessidade de Lydia se unir a certo Besouro, a fim de resgatar Astrid, que vai parar no Mundo dos Mortos. Por falar no local, este ganha mais cenários – em sua maioria representando os tramites burocráticos para se ingressar na Vida Após a Morte e os serviços prestados pelo “Bio-Exorcista” de terno listrado e cabelo verde.
Mas, tudo tem um preço e antes de firmar contrato com aquela por quem é apaixonado há tantos anos, Beetlejuice terá que lidar uma grande pendência de seu passado: sua ex-esposa, a vingativa Delores (Monica Bellucci), que teve seu coração (e um pouco mais) partido por ele, após uma grave descoberta.
Novos nomes são inseridos na história: Jeremy Frazier (Arthur Conti), jovem interesse amoroso de Astrid, que sonha em sair da casa dos pais e é grande admirador do trabalho de Lydia; Rory (Justin Theroux), produtor do programa e atual noivo de Lydia, cuja principal característica é a monumental falta de noção; e Wolf Jackson (Willem Dafoe), ex-ator de filmes policiais que morreu em cena e continua agindo como seu principal personagem, abusando da canastrice e exagero tão comuns em títulos dos anos de 1980.
Se a ideia de uma continuação parecia desnecessária, à primeira vista – até pelo temor de não fazer jus ao original -, logo que os primeiros acordes do tema composto por Danny Elfman (responsável pela trilha sonora) são ouvidos, tal sensação some por completo.
É nesse momento que o público se entrega à imaginação colorida e desenfreada de Tim Burton (que dirige o longa a partir do roteiro de Alfred Gough e Miles Millar), para desfrutar o máximo possível da experiência.
Buscar referências, aplaudir decisões criativas, sorrir a cada nova aparição dos Encolhidos (que, mesmo com suas cabeças diminutas e comunicação reduzida, agora ocupam cargos no escritório de Beetlejuice). Tudo acontece de maneira tão natural, quanto prazerosa.
Entre tantos êxitos de “Os Fantasmas Ainda se Divertem: Beetlejuice Beetlejuice”, três merecem destaque: a sequência passada nas areias do submundo, onde reside a icônica minhoca do deserto, cuja aparência continua incrível. A cena vista em parte em um dos trailers oficiais, que mostra uma merecida punição a influenciadores digitais inconvenientes. E uma curta, mas maravilhosa participação especial, ao som de “Tragedy” do grupo Bee Gees.
Com a constatação de ser viável fazer algo de qualidade, mesmo após o enorme hiato entre as produções, fica meu desejo de que uma terceira parte seja anunciada em breve. Afinal, ainda falta acrescentar o icônico nome de Beetlejuice ao título, mais uma vez.
Imperdível.
por Angela Debellis
*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.
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