Baseado em um caso real que ocorreu em meados dos anos 2000, “No Fio da Navalha” (By a Sharp Knife) retrata o triste assassinato de um jovem e a busca por justiça de seu pai. Ludovit perde o filho em um ataque cometido por um grupo neonazista, mas devido a questões burocráticas na legislação da Eslováquia, os assassinos de seu filho saem facilmente impunes. A partir disso, acompanhamos o protagonista e sua luta contra o sistema judiciário injusto do país.
Ludovit é muito bem interpretado pelo ator Roman Luknár, que consegue passar a raiva, a frustração e a culpa que o pai sente por não ter sido próximo do filho enquanto ele ainda estava vivo. Ao mesmo tempo em que luta por justiça, o personagem é atormentado pela culpa, e pelo questionamento de qual seria o destino do filho caso ele tivesse agido de forma diferente.
O filme é um retrato realista e desolador do luto, da culpa e das consequências de um sistema judiciário ineficaz, corrupto e influenciado pela máfia. Empenhada em descobrir a verdade, a narrativa aborda a luta, e as dificuldades de uma batalha desigual contra policiais, promotores e juízes em um sistema corrompido e nos faz perguntar até onde um pai pode ir por justiça.
A trama se foca majoritariamente na figura do pai, mas também mostra as consequências do assassinato e da luta de Ludovit por justiça na vida da mãe e da pequena irmã do jovem assassinado que, além de terem que lidar com o luto, também têm que lidar com o risco que passam a correr pelas ações do pai.
Tendo como base os acontecimentos do caso real e, ao contrário de alguns títulos do gênero, os roteiristas Jakub Medvecký e Teodor Kuhn decidiram não fazer grandes modificações na história original, e não buscam amenizá-la ou torná-la mais palatável aos espectadores. A direção de Teodor Kuhnn ressalta essa decisão e entrega um filme duro e doloroso que pode não agradar o grande público.
“No Fio da Navalha” não apresenta cenas gráficas de violência física, ou coisas do gênero, mas a injustiça retratada é algo frustrante e difícil de engolir. Ainda que melancólico com seus tons azulados e pouco vibrantes, o filme que estreia na plataforma de streaming Cinema Virtual tem uma bela fotografia, e o trabalho de som, com silêncios prolongados e leve trilha sonora, passa bem o sentimento de vazio do luto e de se sentir impotente diante das injustiças da vida.
por Isabella Marques – especial para EOL
*Título assistido via streaming, a convite da Elite Filmes.
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