A admiração do diretor Pedro Serrano por um dos maiores compositores do cancioneiro popular brasileiro surgiu em 2015, com o curta-metragem “Dá licença de contar” (lançado em 2015), seguiu com o documentário “Adoniran – Meu nome é João Rubinato” (de 2018) e ganha um novo capítulo com a estreia de “Saudosa Maloca”, que chega agora aos cinemas.
O longa dirigido e co-escrito por Pedro, (Guilherme Quintela e Rubens Marinelli também escrevem o roteiro), traz de volta o trio principal visto no curta, que com mais tempo em tela, consegue expandir a interessante ideia de transformar passagens de grandes sucessos de Adoniran Barbosa, em um filme que diverte e emociona com a mesma capacidade.
A trama gira em torno do cantor / compositor / ator Adoniran Barbosa (Paulo Miklos) aos 72 anos, que, durante conversas com o garçom do Bar Blaquitais (sim, o nome do estabelecimento tem essa peculiar forma de escrita mesmo), Cícero (Sidney Santiago Kuanza), relembra passagens de sua vida ao lado dos melhores amigos Mato Grosso (Gero Camilo) e Joca (Gustavo Machado).
Trechos de sucessos atemporais como “Trem das Onze” (recitado durante uma das muitas aventuras amorosas de Joca), “Samba do Arnesto” (aquele que mora no Brás e convida os amigos para um samba em sua casa, mas não está lá para recebê-los) são ricamente encenados, enquanto outras músicas – como “Já fui uma Brasa” – têm citações inseridas em diálogos de maneira tão fluída, que mesmo aqueles que não as conhecem, conseguirão perceber o toque especial que elas dão ao texto.
Nas sábias palavras de Adoniran, “Quando se ouve o barulho do progresso mais alto que o dos instrumentos, é hora do malandro tomar jeito”. Então, enquanto lutam para manter residência na tal maloca que dá título ao filme, os amigos buscam formas de ganhar dinheiro (não necessariamente trabalhando).
Mas, enquanto relutam em deixar de viver sem a responsabilidade de um trabalho, ainda há espaço para Mato Grosso e Joca tentarem ganhar o coração de Iracema (Leilah Moreno), balconista do bar por eles frequentado no Bixiga, cujo talento é grande o suficiente para alimentar seu sonho de tornar-se modista de ateliê de costura para mulheres.
Acompanhar a trajetória do cantor – das rodas de samba aos estúdios e emissoras de rádio – que tanto marcou a história do samba no Brasil, através de tão boas interpretações de todo elenco, me fez sorrir várias vezes durante os 108 minutos de duração da obra. Reconhecer frases de canções, perceber como poucas palavras podem servir de base para cenas memoráveis e torcer a favor (mesmo já sabendo do resultado) foi um lindo exercício que, como fã de boa música e cinema, senti satisfação em praticar.
Os momentos finais de “Saudosa Maloca” (que contam com uma ótima participação especial) carregam uma esperada, mas ainda assim, surpreendente, carga emocional. E, de repente, enquanto via subir os créditos finais na tela, lembrei-me de uma curta (mas muito significativa) sequência do filme – passada em frente a um espelho – e chorei. Que linda a capacidade que a arte tem de tocar corações.
por Angela Debellis
*Texto originalmente publicado no site A Toupeira.
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